sexta-feira, 2 de julho de 2010

O fim da picada

Tatuagem criada por cientistas norte-americanos do MIT elimina o desconforto diário da medição dos níveis de glicose no sangue com espetadas de agulha na ponta dos dedos. Diabéticos e médicos recebem a notícia com otimismo


Do Correio Braziliense
Brasília - Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) desenvolveram uma nova técnica para medir a quantidade de glicose no sangue de pessoas que sofrem de diabetes, sem agulhas. Michael Strano e Paul Barone criaram uma pequena tatuagem de nanopartículas que é desenhada na pele dos pacientes, por exemplo no braço (ver arte). A tinta desta gravura é formada por nanotubos de carbono e quando ela entra em contato com a glicose se torna fluorescente e pode ser traduzida por um aparelho similar a um relógio de pulso.

Com uma luz infravermelha, o leitor escaneia o desenho e, pela variação da bioluminescência, revela no leitor ótico a quantidade proporcional de glicose no sangue do paciente. A tatuagem é discreta, pode ser confundida com um sinal na pele e o próprio paciente poderá fazer por meio de um pequeno aparelho que injeta a nanotinta na epiderme por pressão e sem dor. Já que a epiderme se renova a cada sete dias, aproximadamente, também a marcação deve ser refeita a cada semana.

A medição pode ser verificada quantas vezes forem necessárias, já que a nanotinta não sofre desgaste por excesso de exposição à luz infravermelha. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de 220 milhões de pessoas no mundo sofrem de diabetes e têm que monitorar a quantidade de glicose no sangue porque o corpo delas não produz insulina suficiente para quebrar essas partículas ou porque a insulina produzida não consegue mais exercer essa função. A Sociedade Brasileira de Diabetes considera valores a cima de 126 mg em jejum como hiperglicemia e suspeita de diabetes; e acima de 200 mg, em qualquer situação, como hiperglicemia e quadro de diabetes.

Primeiros sinais - Os sintomas da hiperglicemia são sede, cansaço, pele seca, dor de cabeça que pode evoluir para náuseas e vômitos, sonolência, dificuldade respiratória e hálito de maçã. No entanto, pessoas com diabetes podem estar com hiperglicemia e não apresentar nenhum dos sintomas. Saulo Cavalcanti, presidente da Sociedade Brasileirade Diabetes, alerta para os perigos da hiperglicemia. "É preciso ficar atento, pois quando o nível de glicose no sangue alcança 180mg podem ocorrer lesões no endotélio que podem evoluir para o rompimeto das artérias, causando derrames, cegueira e até infarto", alerta Cavalcanti. E completa: "Infelizmente, a maioria dos pacientes só percebe a hiperglicemia quando ela chega a esse extremo."

Ainda de acordo com Cavalcanti, a quantidade de medições diárias depende do tipo e da gravidade do diabetes. O analista de segurança da informação, Diogo Corteletti, 27 anos, é diabético tipo 1, dependente de insulina e faz o monitoramento duas vezes ao dia: "Sempre uma vez pela manhã, quando acordo, e outra no fim da tarde", comenta. Já a estudante de psicologia Andressa Queiroz Fernandes, 20 anos, que também é diabética tipo 1, faz o monitoramento sete vezes ao dia, antes de todas as refeições. "Tenho que fazer o que o meu pâncreas não faz. Verifico a contagem de açúcar no sangue, faço a contagem dos carboidratos do queeu vou comer e calculo a quantidade de insulina que preciso para a digestão", conta. "Diabetes é um problema de dimensão global mas, apesar de décadas de avanços da engenharia, os métodos de medição de glicose no sangue ainda são quase primitivos", comenta Strano, um dos autores da pesquisa.

Economia - Cavalcanti acredita que o melhor benefício deste novo método é a economia com gastos com as glucofitas e as agulhas. Cada glucofita custa em média R$ 1,80; a agulha sai por R$ 0,55 e pode ser utilizada por até cinco vezes; já o aparelho que perfura o dedo, semelhante a uma caneta, tem preço variável a partir de R$ 50, dependendo do modelo, e dura até 10 anos. Andressa gasta cerca de R$ 95 por semana para monitorar sua diabetes, apenas com glucofitas e agulhas. É um custo total de R$ 370 por mês, R$ 4.450 por ano. O método da tatuagem dispensa o uso das fitas e agulhas, mas como está em fase de testes pelo laboratório americano Draper, ainda não tem previsão de comercialização e preço.

A forma mais comum demonitoramento da glicose utilizada pelos diabéticos consiste em furar o dedo com uma minúscula agulha para coletar uma gota de sangue. A gota é colocada em uma fita reagente responsável pela medição da glicose, chamada glucofita.

Andressa diz que, apesar de a dor da picada ser mínima, o procedimento atrapalha o dia a dia. "Tenho que pegar o kit, furar o dedo, preparar a fita, aguardar o resultado e depois fazer a contagem de carboidratos. Isso leva tempo. Com o leitor e a tatuagem, além do tempo que iria ganhar, diminuiria o incômodo; além disso, ficaria mais tranquila podendo monitorar com mais frequência o nível do açúcar", acrescenta. Diogo se incomoda mais com as picadas do monitoramento e espera que o novo método da tatuagem dê certo: "Só de não ter que furar meus dedos todos os dias já seria um alívio, é bem melhor".

Energia luminosa

Bioluminescência é a emissão de luz por organismos vivos como resultado de uma reação onde energia química é transformada em luminosa. Este efeito é possível em diversos grupos de organismos, desde
os metabolicamente mais simples, como bactérias, até insetos. É o que acontece com os vagalumes, que brilham e apagam quando uma proteína chamada luciferina é oxidada por uma enzima denominada luciferase e ocorre liberação de energia luminosa.