Escrevo este post na volta da Escola da Jujuba.
Acabei de conversar com a nova professora sobre diabetes e os cuidados diários com minha pequena docinho. Todo início de ano letivo, além das tradicionais expectativas sobre rendimento escolar, avanços e descobertas de nossa filha, ficamos tensos com a fase de adaptação dos novos professores aos cuidados que Júlia precisa durante o período escolar. Devo registrar que o apoio da Escola e dos seus dirigentes, coordenadores, professores e funcionários tem sido irrestrito. Só tenho que agradecer.
Mas imagine a seguinte situação: o que dizer para a nova professora, que não é familiarizada com a doença nos poucos minutos de um contato inicial: pâncreas, doença autoimune, diabetes tipo 1, insulina, medição capilar, bomba de insulina, hipoglicemia, hiperglicemia, contagem de carboidratos... Temas suficientes para um curso de pós-graduação.... Tudo de uma só vez, sem qualquer preparação...
É fácil imaginar a reação de quem escuta a conversa:
- Tá entendendo?
- “Claro...”
- Não é complicado, você pega tudo num instante...
- “Sem dúvida”
- Qualquer coisa é só ligar...
- “ Pode deixar”...
- Está pronta para esse desafio?
- CLARO .... não NÃO!
Não é nada fácil decidir o que falar num primeiro contato, sem apavorar o ouvinte.
- Diabetes?
- Não se preocupe, minha tia (ou prima, ou mãe, pai...) também tem...
- Mas a diabetes a que me refiro não é a tipo 2. Júlia é insulino-dependente... A diabetes dela é tipo 1...
- Hum...
- Ela não pode comer açúcar, não é isso?
- Isso, mas precisamos contar carboidratos para “queimar” o que ela comer e ainda fazer a correção para a meta de glicemia pré-prandial...
- Sei...
Se o leitor com alguma experiência no assunto entende o que estou querendo demonstrar, posso assegurar que para um marinheiro de primeira viagem a conversa deve ser aterrorizante... Afinal ELE, o professor, é o escolhido para fazer tudo aquilo, para aprender tudo aquilo... Algumas vezes essa conversa pode ocorrer depois do início das aulas...
Nós optamos por ter conversas prévias com os professores da Júlia, sempre com o auxílio de antigos professores que possam tranquilizar os “novatos”, demonstrando que com um pouco de boa-vontade tudo se resolverá de modo satisfatório.
Carolina costuma separar reportagens, apostilas sobre o tema e com o passar do tempo chegou a elaborar uma espécie de cartilha específica com a rotina da Júlia na escola, detalhando os cuidados necessários.
Da minha parte, gosto de esclarecer o seguinte:
1. A professora é peça fundamental no tratamento de uma criança diabética, considerando o tempo diário de permanência na escola.
2. Sempre que possível tentamos estruturar o tratamento do diabetes para que o mínimo de providências fique sob responsabilidade da escola.
3. Procuro explicar que a taxa de glicemia de cada um não pode ser percebida sem a verificação capilar. Gosto de comparar a quantidade de glicose em nosso corpo com o nível de óleo do carro. Do mesmo jeito que utilizamos a vareta para verificar o nível, fazemos a “ponta de dedo” para decidirmos que conduta adotar.
4. Essa é a primeira lição, depois das informações básicas sobre a doença: o que é, como funciona, o que significa hipoglicemia e hiperglicemia, como funciona o aparelho (no caso o glicosímetro e a bomba de insulina)
5. Depois da conscientização sobre a doença e da importância da monitorização, é preciso conversar sobre os sinais aparentes de problemas: sudorese, sono, agito... enfim, tudo que possa significar hipo/hiperglicemia.
6. Aí vem conversas sobre alimentação e a conduta a ser adotada
Não dá para absorver tudo de uma só vez. Pelo menos no início um acompanhamento mais próximo será necessário. Importante é ressaltar que a criança não deve ser tratada de modo diferente, que deve ter o mesmo nível de exigência para atividades e comportamento das demais crianças e que sempre estaremos por perto para ajudar e esclarecer.
Tem-se aqui o ponto de partida para um diálogo franco, comprometido com o bem-estar dos nossos docinhos, numa via de mão dupla em que só a cooperação gera resultados.
Não existe uma fórmula única. Depende-se de experiências pessoais, do tipo de tratamento de cada paciente, das peculiaridades da escola e das individualidades do grupo familiar.
Só posso registrar que fico feliz que estejamos conseguindo vencer esse desafio.
Marcos Ehrhardt – Pai da Jujuba
Parabéns pela iniciativa do blog, realmente esclarecedor. Só acho que uma professora da educação infantil fica um pouco sobrecarregada, não? Muita responsabilidade, além das já inerentes à função. Não seria o caso do colégio dispor de uma auxiliar/técnica de enfermagem?
ResponderExcluirNa escola da Júlia, a professora possui uma auxiliar sempre junto... Existe também uma auxiliar de enfermagem (essa escola é excessão, a maioria das escolas não possuem uma) que também acompanha todo o processo e na maioria dos dias é ela que faz todo procedimento. Não podemos deixar a "responsabilidade" com uma só pessoa pois se a responsável por acaso faltar ou for ao médico por exemplo, precisamos ter outras pessoas que possam fazer o procedimento....
ExcluirA professora que fica a maior parte do tempo com ela, então mais do que ninguém, precisa entender sobre diabetes, saber lidar com a doença e principalmente identificar uma hipoglicemia e saber combatê-la... Não é algo fácil, mas é algo necessário! Inclusão é isso....