segunda-feira, 19 de abril de 2010

Diabetes dobra chance de depressão pós-parto, indica estudo

Gestações de mulheres diabéticas podem ser de alto risco: quando não controlada, a doença aumenta a probabilidade de o bebê nascer com excesso de peso, de complicações no parto e de prematuridade.

Um novo estudo publicado no "Jama" (revista da Associação Médica Americana) acaba de adicionar mais um problema à lista. Após acompanharem mais de 11 mil gestantes, pesquisadores da Universidade Harvard mostraram que o diabetes dobra a chance de a mulher desenvolver depressão na gravidez e nós pós-parto.

Segundo a autora, Katy Kozhimannil, o estudo revelou um novo fator de risco potencial para a depressão pós-parto. "É uma doença muito séria, tratável, mas subdiagnosticada. É importante reunir esforços para detectá-la e ajudar mulheres com alto risco de desenvolvê-la", disse à Folha.

A chance de uma mulher ter depressão pós-parto varia de 10% a 15% nos países ricos e de 15% a 20% no Brasil. Além do diabetes, outros fatores de risco para o problema são história anterior ou familiar de depressão, baixo nível socioeconômico, conflitos conjugais e ocorrência de transtornos de ansiedade e depressão na gestação.

Apesar de a relação entre diabetes e depressão em geral já ser conhecida, trata-se da primeira pesquisa a avaliar a ligação entre a doença e a depressão na gestação e no pós-parto, diz Kozhimannil. Não foram avaliados os motivos que levam ao maior índice de depressão em diabéticos, mas a pesquisadora aponta que fatores biológicos e hormonais podem estar envolvidos, assim como o estresse de lidar com uma doença crônica que traz riscos à mãe e ao bebê.

Segundo o psiquiatra Joel Rennó Jr., diretor do Programa de Saúde Mental da Mulher do Hospital das Clínicas de São Paulo, uma das hipóteses para explicar a questão é que o diabetes tem um efeito neuroquímico sobre os sistemas de neurotransmissores semelhante ao que ocorre na depressão.

A depressão na gravidez piora a aderência ao pré-natal e aumenta o risco de parto prematuro e de baixo peso da criança. Após o parto, pode fazer com que a mulher negligencie o cuidado com o bebê. "Ela não vai ter o prazer de curtir o momento especial que é o pós-parto", diz Rennó Jr.

Segundo o psiquiatra, a depressão não tratada piora a evolução do diabetes. "A doença exige uma aderência do paciente ao tratamento. Tem que fazer um controle glicêmico rigoroso, reeducação alimentar, atividade física, aplicar insulina. O deprimido não faz isso de forma adequada."

A recomendação é que diabéticas planejem a gestação. "O diabetes não compensado no momento da fecundação aumenta de três a seis vezes o risco de malformações no feto", diz Airton Golbert, endocrinologista do Departamento de Diabetes Gestacional da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Diabetes gestacional

Não são só as mulheres que têm diabetes antes de engravidar que devem ficar atentas. Segundo o estudo de Harvard, o diabetes gestacional -que se manifesta apenas na gravidez- também aumenta o risco de depressão. A condição afeta em torno de 6% a 8% das gestantes.

"Na gravidez, a necessidade de insulina aumenta de três a cinco vezes. Na maioria das mulheres, o pâncreas responde bem, mas aquelas que têm fatores de risco, como tendência genética ou obesidade, podem ter o problema", diz Golbert.


Fazer um pré-natal adequado e evitar ganhar peso em excesso ajudam a prevenir o diabetes gestacional.
 
FONTE: FLÁVIA MANTOVANI da Folha de S.Paulo

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