segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Uma descoberta Diferente - Por Giselle Mamede

Essa é uma amiga muito especial que conheci no Grupo da ADABETES (Associação dos Diabético de Alagoas) e que gosto "de graça"!!!!! Apesar de não nos encontrarmos muito, ela parece estar sempre presente em nossas vidas e tem sempre uma dica ou palavra de incentivo para nos dar em todas as situações...  Pedro e Neto são felizardos de ter uma mãe/mulher tão especial na vida deles!!!!!

É com muito prazer que atendo ao convite da Carol em dar meu depoimento aqui, nesse lugar tão lindo, tão cheio de conhecimento e, principalmente, tão cheio de amor. 
Como a maioria por aqui, o que (ou quem) me aproximou da Carol foi a Julia... e o diabetes. Conheci a Carol há uns 2 anos em uma reunião de varias pessoas interessadas em falar sobre diabetes, sobre suas experiências com a doença, em trocar informações... 
Lá eu conheci a Julia também, essa menininha linda que enche de luz qualquer lugar em que esteja. 
Nessas reuniões, contávamos como tinha sido a descoberta, como era nossa vida desde que o diabetes começou a fazer parte dela e tentávamos ajudar uns aos outros nessa jornada. 

Eu devo ter vivido a mais diferente de todas as experiências para a descoberta do meu diabetes. Em todas as historias que escutei, a pessoa passou mal, ou apresentava sintomas clássicos, como perda de peso, aumento de apetite, sonolência... Eu não tive nada disso. Ao invés de ser “pega” de surpresa pelo problema já instalado, nós é que pegamos a doença desprevenida e conseguimos “enrolá-la” por um tempo. 
Como assim???? 
Vou começar pelo comecinho: em 2001 fiz alguns exames de rotina (minha mãe sempre fez questão de que fizéssemos exames anualmente ou no tempo em que o nosso médico recomendasse para ver se estava sempre tudo bem). Em um desses exames, minha glicemia de jejum estava normal, mas estava perto do limite máximo (o resultado foi 108, mas na época era outro tipo de glicemia de jejum em que o resultado poderia ser ate 110 e ser normal). Pois bem, o médico na época me disse que estava tudo normal, mas que eu diminuísse um pouco a ingestão de açúcar para ver se tinha a ver com a minha alimentação. Assim foi feito. Isto foi perto do meu aniversario de 20 anos. No dia da comemoração, nem teve docinhos porque eu não podia comer (rsrsrsrs). 
2 meses após o inicio da nova dieta, fiz uma nova glicemia de jejum e qual não foi a minha surpresa, o exame continuava praticamente do mesmo jeito (desta vez deu 109). 
Lá vou eu encaminhada a uma endocrinologista para ver o que estava ocorrendo. Aí começou uma nova dieta, altamente restritiva em relação a açúcar (na época ninguém me disse que não poderia comer massa, por exemplo, então só não comia doce mesmo). Estava no meio da primeira greve da universidade, em meu primeiro ano de curso de enfermagem, e ainda não conhecia bem o diabetes. A informação era a que a maioria conhece: não pode comer doce. E eu não comia. Olhava todos os rótulos dos produtos que iria comer e quando achava açúcar escrito, não comia. Nessa época descobri que praticamente TUDO tem açúcar!!! Até salsicha, e biscoito SALGADO!!! rsrsrsrs 
Em menos de um mês eu tinha perdido 5kg!!!! Passei uns 4 meses nessa historia, fazendo exames... no fim do ano, fui liberada pela endocrinologista numa boa. Não havia um único exame alterado (nem glicemia de jejum, nem curva glicêmica). Eu só precisava ficar fazendo os exames de rotina algumas vezes por ano pra ver se continuava ok. Em maço de 2002, comecei a malhar. Queria recuperar o peso que eu havia perdido de uma maneira saudável. Apaixonei-me pela musculação!!! Ganhei músculos, fiquei mais saudável... Pratico até hoje!! 
Mudei de endocrinologista 2 vezes. A primeira porque não agüentava ficar o dia inteiro esperando para se atendida. Eu tinha muito o que estudar. Depois, mudei de plano de saúde e aí a segunda medica não atendia meu novo plano. Cheguei ao meu novo medico, Dr. Edson Perrotti, acho que foi em 2005. Já estava no meu quinto ano de faculdade e já havia me interessado em aprender sobre o diabetes e passei todos esses anos fazendo minha dietinha de doce. Não tomava refrigerante (só zero), não comia nada doce que não fosse diet... Eu era bem disciplinada, juro!!!! Mas, claro, às vezes dava uma escapadinha. Meus amigos já conheciam todas as minhas coisinhas diets e alguns até gostavam também. 
Com meu novo endocrinologista (Dr. Edson), fiz mais um monte de exames, levei para casa um glicosímetro para medir as glicemias em determinados horários para ele ver como a minha glicose se comportava... 
Neto e Giselle (com Pedro na barriga)

Na véspera do primeiro teste, eu nem dormi!!! Já tinha feito tantas vezes em meus pacientes, mas em mim... como foi dificil!!! Alem desse, fiz um exame que eu nunca tinha feito antes: anticorpo anti GAD. Ele indicaria se eu tinha um anticorpo atacando minhas células produtoras de insulina, o que causaria diabetes tipo I. Para um resultado negativo, o valor no exame deveria ter sido 1. O meu foi 18!!!!! 
Ai, meu Deus!!!! Fiquei arrasada!! Meio triste! Não queria ser diabética! Eu sabia tudo o que poderia acontecer a um diabético! Tantas coisas difíceis!! Tinha muitooo medo de seguelas... Eu achava que estaria fadada a isso!!!! (não conseguia pensar que uma pessoa com um bom controle NÃO passaria por nada disso). 
Levo meu exame ao meu endocrinologista e ele me confirma que os meus anticorpos estavam atacando as células produtoras de insulina e que, um dia, eu desenvolveria diabetes tipo I. Mas aquilo não era o fim do mundo. Que uma pessoa com um bom controle poderia viver muito bem, sem qualquer sequela. E eu ainda nem era diabética e poderia atrasar a chegada da doença se evitasse comer carboidrato em excesso e começando a tomar insulina. Desta maneira, eu evitaria que os anticorpos atacassem muito as minhas células e ainda poderia produzir insulina por algum tempo. Só não sabíamos por quanto tempo! 
Comecei a usar Lantus, 1x ao dia. Detalhe, mais uma vez isso foi perto do meu aniversario. Mais um presentinho pra mim. Mas a conversa com o Dr. Edson foi ótima e eu consegui sair de lá me sentindo bem e sem ficar pensando nos males que muitos pacientes meus viviam porque não se cuidaram ou não puderam se cuidar (sim, tem muita gente que não tem como ficar medido glicemia e nem ficar aplicando insulina e aparecem com glicemias absurdamente altas). 
Como já havia estudado sobre diabetes, conseguia entender bem tudo o que o medico me explicava, conseguindo ficar tranquila sobre a minha situação. Ser quase uma enfermeira na época ao mesmo tempo me ajudava e me atrapalhava. Atrapalhava por causa de tudo de ruim que sabia sobre a doença, mas me ajudava porque sabia que havia como viver bem. Então, segui adiante. 
Difícil era explicar para todo mundo o que estava acontecendo, por que eu já tomava insulina se ainda não era diabética. Além disso, ainda tinha que ouvir aquelas falinhas : “bichinha..., tão novinha...” (como se alguém com quase 25 anos não pudesse ser diabética. E quantas crianças são?!). 
Dr. Edson Perrotti, Neto e Pedro
Mas eu tinha que agradecer a Deus por ter descoberto sem ficar doente, passar mal e por só ter aparecido depois de adulta e ainda quase formada, o que significava que eu teria mais condições de lidar com tudo isso! Uns amigos até me disseram uma coisa que para muitos poderia soar ruim, mas eu via com bons olhos. Eles me disseram que bom que havia acontecido com alguém como eu: enfermeira (eu havia me formado em março desse mesmo ano, 2006) e disciplinada... E era verdade. Conheço gente que não faria nem 1% do que a gente faz. Eu fico de olho na minha comida, pratico exercícios físicos, faço minhas pontas de dedo ao menos 4 vezes por dia... 
Muita coisa aconteceu nesse mesmo ano: tinha me formado, estava trabalhando, e ia me casar 3 meses depois que comecei com a lantus. Depois do casamento, comecei a ficar preocupada quanto a uma futura gravidez, se a minha condição de não diabética, mas que poderia vir a ser, pudesse fazer mal ao meu bebe. Mais uma vez Dr. Edson me deixou tranquila e me disse que quando eu quisesse engravidar, avisasse para que ele me acompanhasse de perto. 
Tudo ficou tranqüilo. Continuava disciplinada com minha dieta, mas às vezes dava minhas escapadas. Mas até nas escapadas eu era disciplinada. Se estivesse com muitaaaa vontade, comia 1 brigadeiro, por exemplo. E em varias mordidas, assim ele duraria mais e eu teria a sensação de que eu havia comido alguns ao invés de um só. Rssrrsrssrs 
No final de 2008, lá para novembro, fiz novos exames e dessa vez eles começaram a ficar alterados. Dr. Edson me disse que agora eu teria que tomar uma insulina de ação rápida também, porque o diabetes tinha chegado. Confesso que fiquei triste. Murchinha... Mas isso durou alguns minutos. Até ele me explicar que eu deveria fazer contagem de carboidratos e tomar a quantidade de insulina referente a cada alimento. Fiquei feliz quando finalmente entendi que eu poderia comer DE TUDO agora (com moderação, é claro. Deveria manter uma dieta equilibrada, uma dieta que deveria ser seguida por qualquer pessoa, diabética ou não) e ficar de olho no peso para não engordar e estragar o controle da glicemia. Já saí de lá com minha nova insulina. 
Confesso também que os primeiros dias, ou meses, foram bem difíceis: eu deveria anotar tudo que estava comendo, contar os carboidratos, tomar a insulina... e isso levava muito tempo. Às vezes, todo mundo já havia terminado de almoçar e eu estava lá, contando quantas colheres de arroz eu ia comer... Sem contar que eu estava fazendo residência, dava plantão quase todos os dias e era difícil conciliar tudo isso. No primeiro fim de semana tive 10 episódios de hipoglicemia, porque ainda precisávamos ajustar a quantidade de insulina. Hoje faço a contagem de carboidratos em alguns segundos e geralmente não tenho hipoglicemias. 
2 meses depois do diagnóstico de diabetes e inicio da insulina rápida, eu viajei para o exterior e fiquei aflita quanto a possibilidade de acontecer alguma coisa por lá e eu longe do médico!!! Mas Dr. Edson me deixou tranqüila e me disse eu poderia entrar em contato com ele por telefone ou por e-mail. Tudo deu certo. 
Em 5 março de 2009, comecei a usar a bomba de infusão contínua de insulina por sugestão do próprio Dr. Edson. Mais uma adaptação: carregar aquilo na cintura, deixar muitos curiosos olhando para mim, conseguir dormir “tomando conta” daquilo... Eu achava que jamais iria me acostumar. Só de pensar em ir à praia... afff!! Mas me surpreendi! Mal comecei o mês de teste e eu já queria a minha!! Não precisar ficar me furando todas as vezes que comia era uma maravilha! E meu controle! Já era legal, depois da bomba, ficou maravilhoso!! Glicemia glicada de 5!!! Perfeita!!! E muitooo melhor que muitos não diabéticos por aí!!!! Então todo o resto ficou de lado!! 
Procurei a defensoria pública e consegui minha bomba!! 
Sempre que alguém me perguntava do que se tratava, explicava direitinho. Trabalho com vários médicos e enfermeiras e muitos deles nem sabiam do tratamento com a bomba. Então, dividi conhecimento!!! Nos dias em que não estava a fim de dar explicações, principalmente quando sabia que encontraria pessoas do tipo “ai, a bichinha...” “aafff, que coisa horrível...”, eu vestia uma batinha para cobrir a bomba e aí evitava que vissem!!!! 
De vez em quando alguém me pergunta por quanto tempo eu tenho que usar insulina, fazer ponta de dedo... Eu costumava responder “para sempre”, até uma amiga me dizer: “Para sempre, não. Ate que a cura chegue.” A partir desse dia, nunca mais respondi o “para sempre”. 
Com o tempo, eu me acostumei a ficar carregando a bomba (às vezes ainda me aborreço, mas passa). Trocava experiência, perguntava ao médico como fazer para ir à praia... Tinha que me acostumar. Não existia chance de eu querer ficar sem a bomba, então tinha que me virar!! Prendo a bomba na perna para usar vestidos; uso batinhas para escondê-la se preciso ir a algum lugar em que haja perigo de alguém confundir com um celular e quer roubá-la; vou à praia numa boa e problema de quem ficar olhando curioso!! Se me perguntar, eu explico!!! Pode ter certeza!!! Já fui a shows e coloquei a bomba num ziploc dentro da roupa para não correr o risco de molhar. Até no trabalho já precisei fazer isso: a residência era no SAMU e cansei de levar chuva. Também sou enfermeira do corpo de bombeiros e já participei de treinamentos que tinham água... então, saquinho plástico na bomba!! E por aí vai... 
Em 2010 me tornei professora do curso de enfermagem e já pude transmitir aos meus alunos um pouco da minha experiência como diabética, usuária de bomba de infusão... Eles ficam bem interessados. E eu me sinto ainda mais útil!!! 
Linda Família
Ah!!! O dia em que desejei ser mãe chegou!! E como meu médico havia dito, ele me acompanhou de perto!! Tinha consultas mensais, depois quinzenais e, até semanais, tais como um pré-natal. Ficamos em cima para que meu controle não fosse embora!!! A gestação em si já causa um descontrole na glicemia. Mas conseguimos cuidar de nós 2!!! Foi difícil!!! Eu tomava umas 10 vezes mais insulina do que antes, ficava preocupada e angustiada com a hipótese de causar algum mal ao bebê, mas tudo deu certo!!!!! E no dia do parto, Dr. Edson estava lá comigo para acompanhar a minha cesariana e controlar minha glicose através da minha bomba. Senti-me muito segura. Enquanto meu esposo acompanhava e registrava os primeiros momentos de nosso bebê no mundo, eu tinha alguém para controlar perfeitamente a minha glicose e ainda tinha um rostinho amigo para ver sempre que me sentia ansiosa! 
Dia 4 de março deste ano (2011), dei à luz a um bebê lindo e saudável (2 anos após o início da terapia com bomba de insulina). O aniversario de 2 anos do uso da bomba foi comemorado com mais um membro: meu Pedro!!! Meu filho lindo!!! E sei que devo essa alegria a Deus!!! E sei que foi Ele quem colocou um médico tão competente em minha vida, permitindo, assim, que eu, diabética tipo I, usuária de insulina, pudesse ser mãe e de uma maneira saudável. Não tive nenhum problema na gestação em relação ao diabetes, meu bebê sequer teve hipoglicemia (coisa esperada em casos de bebês de mães diabéticas, geralmente as NÃO controladas). Ele hoje tem 6 meses e meio e me faz ter ainda mais certeza de que preciso me cuidar!! Ser disciplinada deve ser minha obrigação!!! Dá trabalho, mas vale a pena. 
Ter o apoio da minha família, principalmente do meu maridão, que está no dia a dia comigo, contribui, e muito, para o sucesso do tratamento. No conseguiria sem eles. Neto, meu esposo, é um super companheiro, ele me ajuda em tudo!! 
Mamãe Giselle e Pedro
Não vou dizer que é tudo perfeito. Às vezes fico de saco cheio de ter que contar carboidrato, tomar insulina, fazer ponta de dedo, pendurar bomba, mostrar bomba, esconder bomba... Mas coloquei na minha cabeça que não tenho escolha. Se quero ter saúde e viver bem e jamais ter qualquer uma daquelas seguelas que eu tinha tanto medo no início, eu TENHO que me cuidar!!! 
Na verdade, acho que tenho escolha, sim! Eu escolho viver!!! E hoje, aos 30 anos de idade, 10 anos de cuidados com a glicose e 5 de insulina, tenho certeza que tenho muito a agradecer. Obrigada, Meu Deus!!

5 comentários:

  1. Nossa!!!!!! Não conhecia esse espaço, mas PARABÉNS para quem o criou!!! Não sou diabética, mas me interesso muito pelo assunto e qual não foi a minha surpresa ao sentir escorrerem lágrimassssss ao ler o depoimento dessa pessoa ILUMINADA que é a Giselle Mamede. Minha Amigona, há bem mais tempo que sua convivência com a diabetes e que tem o dom de fazer feliz quem tem a oportunidade de tê-la por perto e de encorajar quem está precisando, seja de um empurrãozinho ou simplesmente de uma palavra. Amiga, AMO VOCÊ INCONDICIONALMENTE E ADMIRO CADA VEZ MAIS O SER HUMANO MARAVILHOSO QUE ÉS!!!

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  2. Parabens giselle!!! Amei o texto, certamente não e fácil conviver c o diabetes e o cansaço bate mas que bom que vc tem muitos fatores de proteção ao seu redor! Minha duas avos eram diabéticas, sempre lutei contra o peso e não sou nem de perto disciplinada como vc! Um beijo grande :-)

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  3. Lindo seu depoimento,cunhada!!!
    Sou cunhada e amiga da Giselle e reconheço e admiro toda a sua disciplina com a diabetes e sua grande vontade de viver!!! Bjs. amo!! Erika

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  4. Sua história é linda e emocionante, nos faz refletir sobre como devemos valorizar cada momento da nossa vida e agradecer sempre à Deus por estarmos com vida e perto das pessoas que amamos!!!!!! Continue determinada e confiante!!! Que Deus possa abençoar a sua família!!!!!!! Bjs!!!!

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  5. Ao ler tudo isso, nos passa uma grande força para lutar e continuar a fazer no dia a dia a tarefa ardua, cansativa, um tanto estressante, mas que nos mostra o quanto vale a pena ver os ótimos resultados (dos exames, dos numeros glicemicos).
    Parabens! Continue assim, é este o modelo que devemos seguir e tentar passar para as outras pessoas. bjs!

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