quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

“Nada melhor do que ter uma doença crônica para viver cem anos”


As telas de Ana Carolina

Em sua nova casa no Rio,a cantora mostra seu talento com os pincéis, diz que vai doar seus quadros para uma instituição de jovens com Diabete, doença que a acompanha há 18 anos, e fala das ousadias das fãs



TEXTO MACEDO RODRIGUES E RENATA CABRAL FOTOS MAURO NASCIMENTO/AG.ISTOÉ



A cantora e suas criações em sua sala de pintura

‘‘Nada melhor do que ter uma doença crônica para viver cem anos’’
ANA CAROLINA, QUE CONTROLA COM DISCIPLINA A DIABETE


Nos palcos, ela se insinua, provoca e leva a platéia ao delírio. Já na vida particular é o lado zen da cantora Ana Carolina, de 34 anos, que tem tomado conta de suas horas livres. De mudança do bairro de São Conrado para uma casa com vista privilegiada no Jardim Botânico, no Rio, é em seu novo recanto que a mineira, de Juiz de Fora, costuma se perder entre tintas e pincéis. Sempre com boa música como trilha sonora, claro. O hobby ganhou inspiração extra com um pequeno luxo a que se permitiu durante a reforma da casa: o cantinho da pintura. O acesso à sala, envolta por paredes de vidro, se dá após vários lances de escada. De um lado, a visão do andar térreo graças à construção vazada; de outro, a Lagoa Rodrigo de Freitas e o mar das praias de Ipanema e do Leblon ficam um pouco mais próximos da cantora. “O silêncio daqui é bom para a arte em geral: para pintar, compor, tudo”, derrete-se Ana Carolina, que, por enquanto, ainda não mora no novo endereço, mas está sempre por lá para dar suas pinceladas. Há anos morando no Rio, ela ainda não adquiriu a intimidade carioca com a praia, confessa. Mas não se cansa de admirá-la.
Os traços na tela, que Ana Carolina começou a ensaiar aos 27 anos por influência de uma prima, alimentam, ainda, uma preocupação social sua. Diabética desde os 16 anos, a cantora é parceira da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ) e vai doar para a instituição a renda do leilão de quatro de suas obras, e a venda de postais com a reprodução de seus desenhos. “É o mínimo que podemos fazer: ajudar a levar informação às pessoas”, diz, sobre a boa ação. “Ela é um ícone da juventude brasileira, tem a capacidade de influenciar milhares de jovens e adultos com diabete a seguir um bom controle da doença, para terem uma boa e digna qualidade de vida”, elogia Sergio Metzger, diretor da ADJ. Graças ao problema de saúde genético, o mesmo que levou sua avó à morte, drogas e bebidas alcoólicas nunca fizeram parte da sua rotina. “Nada melhor do que ter uma doença crônica para viver cem anos”, diz, irreverente. O lado disciplinado da artista, que toma insulina diariamente e aprendeu a contar calorias para seguir uma rígida dieta, se reflete também em sua pintura. Os quadros são parecidos, com leves variações. Alguns deles levam aplicações de fitas glicêmicas — usadas para coletar o sangue antes de medir seu nível de glicose — como um emblema bem-humorado da luta. “Quando algo não tem jeito, a melhor forma de reagir é levar com alto-astral, boa vontade e conhecimento”, destaca.

A sala envidraçada com vista privilegiada do Rio “O silêncio daqui é bom para a arte em geral”

Ainda em turnê por conta do álbum Dois Quartos, de 2007, a cantora leva o prazer pela repetição também para o palco. “Estar na estrada é para quem sabe fazer tudo sempre de novo.” Para as fãs, Ana Carolina faz cada vez melhor. Prova disso são as loucuras que as meninas cometem para chegar perto da estrela. A artista conta que uma delas se deu ao trabalho de, numa embalagem delicada e feminina, embrulhar um órgão sexual feminino de chocolate com o bilhete: “Toda vez que você comer vai lembrar de mim.” Houve ainda outra que driblou um cordão de isolamento quando a artista deixava o local de um show, entrou no carro da cantora, que estava em movimento, lascou um beijo e disse “eu te amo”. Nem o motorista notou sua presença. “Essa tinha de trabalhar para o FBI”, brinca.
Ana Carolina dificilmente perde o bom humor. Durante a entrevista, ri de si mesma e faz piada com quem está à sua volta. Mas quando enfrenta seus dias “não”, como chama, deixa claro seu estado de espírito – até para os admiradores. “É preferível falar a verdade para ser bem compreendido. Nunca tive problemas com isso”, garante. Só o novo talento ela deixava guardado em seu lado B. Agora não mais.

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